Redes municipais e estaduais de ensino voltaram a receber os alunos 100% presencialmente após quase dois anos de mudanças causadas pela pandemia. O impacto do retorno à escola, mesmo no modelo híbrido, já pode ser observado, como mostra uma pesquisa do Datafolha divulgada nesta quinta-feira (21).
O levantamento - encomendado por Itaú Social, Fundação Lemann e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) - ouviu 1.301 pais e responsáveis de todas as regiões do país entre 13 de agosto e 16 de setembro.
A pesquisa revelou que 87% dos estudantes que frequentam as aulas presenciais se sentem mais animados, segundo a visão dos pais. A parcela que afirmou que os filhos se sentem mais otimistas é de 80%, enquanto 85% acredita que os alunos estão mais interessados pelos estudos.
O estudo ainda comparou os desafios enfrentados por alunos que voltaram a frequentar a escola presencialmente com aqueles que ainda não estão em atividades presenciais. Enquanto 58% dos alunos em aulas remotas estão desmotivados com os estudos, o número cai para 51% entre os que já voltaram à escola.
A evolução na aprendizagem dos dois modelos também foi observada: 56% dos pais e responsáveis sentem que os filhos estão evoluindo melhor nas aulas presenciais, enquanto apenas 41% dos que continuam em aulas remotas sentem a mesma coisa.
Outro ponto levantado pela pesquisa é a dificuldade de relacionamento com professores ou colegas que atinge 19% dos alunos que frequentam as aulas digitalmente.
Para Daniel Bonis, diretor de Políticas Educacionais da Fundação Lemann, os resultados apontam que é importante e urgente a retomada das atividades presenciais nas escolas.
"(Os dados) também apontam para a necessidade de um esforço conjunto da sociedade para recuperar a confiança e a autoestima dos estudantes para que eles permaneçam na escola e possam recuperar mais rapidamente as defasagens no aprendizado geradas pela pandemia”, diz.
O que dizem os especialistas
A coordenadora de Inovação em Educação do Instituto Unibanco, Jane Reolo, defende o retorno presencial das aulas para os níveis básicos do ensino, mas diz que é preciso observar as crianças e adolescentes nos primeiros momentos.
"Se os protocolos de segurança forem seguidos, os riscos à saúde não devem ser maiores do que o que enfrentamos no dia a dia. No entanto, é necessário observar também o impacto psicológico que esta readaptação do convívio social causa nos alunos", sugere.
Para ela, entender as dificuldades que os estudantes podem enfrentar na volta à escola assim como as fragilidades que cada um pode apresentar após o período de isolamento e aulas remostas é o único jeito de tornar a readaptação um processo saudável.
Bruno Mader, psicólogo infantil do Hospital Pequeno Príncipe, concorda. "As crianças precisam voltar à escola, retomar a rotina e o convívio escolar, até para evitar comprometimento a longo prazo da capacidade de socialização e aprendizagem", afirma.