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Cultura

Lázaro Ramos é homenageado por festival em Paris; confira entrevista do ator ao Diario

O 23º Festival de Cinema Brasileiro de Paris retorna ao presencial tendo o ator como grande homenageado

Publicada em 01/07/21 às 20:21h - 79 visualizações

Diário de Pernambuco


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 (Foto: Seachlight Pictures/Divulgação)
Mesmo com os obstáculos para viagens internacionais, o cinema nacional continua rodando o mundo. Uma das próximas paradas é a França, que recebe desta quinta (01) até domingo (04) a 23ª edição do Festival de Cinema Brasileiro de Paris. Após mais de um ano e meio fechado, o país caminha para reabertura de 100% das salas de cinema, o que possibilitou o retorno do evento ao seu formato presencial. 

O festival é uma realização da Jangada VoD, que, mesmo sem patrocínio, conseguiu levar a programação mais uma vez para o tradicional cinema de rua parisiense l’Arlequin. Contudo, inúmeras adaptações foram necessárias: o festival foi adiado de abril para julho e a duração foi reduzida de 8 para apenas 4 dias. “Era muito importante fazer fisicamente por várias razões, incluindo os desafios que estamos passando no Brasil com um governo que detesta cultura. Fazer o festival sem patrocínio e mostrar a continuidade do cinema nacional é uma forma de resistência”, afirma a organizadora Kátia Adler.

Sob a temática do negro no cinema brasileiro, a edição deste ano tem como grande homenageado o ator Lázaro Ramos, que apresenta seu primeio longa como diretor, Medida Provisória, ainda inédito no Brasil. Outras obras estreladas por ele também serão exibidas como o clássico Madame Satã, de Karim AÏnouz, Tudo que Aprendemos Juntos, de Sérgio Machado, e O Beijo no Asfalto, de Murilo Benício. Em entrevista exclusiva ao Viver, o ator e agora diretor Lázaro Ramos comentou sobre a honra da escolha. “Eu fiquei muito emocionado com a homenagem. Neste ano que tá tão difícil de filmar e voltar a nossa atividade, é um reconhecimento e um incentivo para todos nós continuarmos produzindo cinema de qualidade”, relata.

Após a sessão de abertura com Medida Provisória, Lázaro e Taís Araújo, protagonista do filme, participaram de um debate online com o público e mediado pelo ativista Luis Lomenha sobre a importância da comunidade negra no cinema nacional. “Ainda não está no lugar dos meus sonhos. Tem muitas histórias que merecem ser contadas e eu acho que é o tipo de cinema que pode renovar a nossa indústria”, afirmou Lázaro sobre a representação negra atual no cinema.

Ao todo são 19 longas, de clássicos a estreias, que serão apresentados para o público francês ou brasileiros residentes em Paris. Entre as ficções, serão exibidos Veneza, de Miguel Falabella, e Marighella, de Wagner Moura. Nos documentários, os destaques são Babenco, de Bárbara Paz, e Alvorada, de Anna Muylaert e Lô Politi, que encerra o festival trazendo uma nova perspectiva sobre o Impeachment de Dilma Rousseff.

Com muitos lançamentos interrompidos em solo nacional, os festivais internacionais surgem como oportunidade de atrair distribuidores. Como explica Kátia: “É uma porta de entrada para que os distribuidores possam ver os filmes e a reação do público na sala de cinema, para que se interessem em comprar e distribuir os filmes brasileiros aqui ou mundialmente”.


Qual o sentimento de ser escolhido como o homenageado numa edição cujo tema é o negro no cinema brasileiro?

Eu fiquei muito emocionado com a homenagem. É a segunda vez que eu sou homenageado na França. Há alguns anos teve o Festival de Cinema de Toulouse, onde, assim como esse, foram exibidos vários dos meus filmes. Fiquei feliz porque a seleção tem desde filmes que já passaram há muito tempo, que eu tenho um carinho grande com tudo que aprendemos juntos, até dois filmes inéditos: o Silêncio da Chuva e o Medidas Provisórias. Neste ano que tá tão difícil de filmar e conseguir voltar a nossa atividade, é um reconhecimento e um incentivo para todos nós continuarmos produzindo cinema de qualidade. Quanto à edição do cinema negro, eu me sinto muito honrado, porque cada dia que passa temos visto no Brasil várias dessas vozes contando suas histórias e é um dos cinemas mais potentes que temos.

Ao longo de duas décadas de trabalho, você percebeu mudanças não só quantitativas, mas também na forma em que o negro participa e é representado nas grandes produções nacionais?

Ainda não está no lugar dos meus sonhos. Tem muitas histórias que merecem ser contadas e eu acho que é um tipo de cinema que pode renovar a nossa indústria, inclusive. Não estou falando isso somente pela demanda social, mas porque o mercado precisa de novas histórias. Um ponto super positivo que eu venho percebendo é o trabalho de várias pessoas, como o coletivo encabeçado pela Glenda Nicácio (Café com Canela), o trabalho da Viviane Ferreira, do Jeferson De; todos têm sido uma peça fundamental para que esse cinema tenha mais visibilidade e produções.


Como está sendo a recepção e a experiência de circular com seu primeiro longa dirigido, o Medida Provisória, por festivais internacionais? Ansioso para trazê-lo para o Brasil?

O Medida Provisória tem tido uma recepção até acima da minha expectativa, com muitas críticas positivas, passando em muitos festivais. A visão que o público e os críticos estão tendo do filme tem me ensinado muito sobre a história que nós contamos. Agora eu estou ansioso para ter esse retorno também do Brasil, mas infelizmente não é possível agora. Nós temos o plano de em novembro poder ir aos cinemas mostrar o filme para as pessoas. Esse longa tem um valor muito especial para nós brasileiros, temos nossos artistas e técnicos que empenharam seu talento para contar essa história.

Após  as coisas melhorarem, você acha que o cinema nacional terá novos desafios ou novas oportunidades para voltar a alcançar e dialogar com o público?

Acho que se por um lado tem um desafio criativo de saber qual é o cinema do mundo pós-pandêmico, tem uma oportunidade também da gente renovar as nossas histórias. Eu não sei, por exemplo, qual história eu gostaria de contar quando tudo isso passar, mas sei que é uma oportunidade. No sentido de viabilização, acho que vai ser o nosso maior desafio. 

Recentemente saiu um número sobre a cadeia de trabalho da cultura. São 243 mil pessoas, desde técnicos, motoristas, atores, músicos, mixadores, pintores, etc. São 243 mil pessoas que foram atingidas diretamente pela crise que estamos passando. Não sei o que vai acontecer. Se as pessoas vão trocar de profissão, se a gente vai conseguir financiamento para viabilizar, mas isso é algo muito importante de pensarmos. Quando você fala dessa cadeia produtiva da cultura, do cinema, ela envolve uma movimentação econômica muito valiosa para um país. Essa cadeia que também emprega tanta gente precisa ser olhada com carinho.



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