Dignidade menstrual é um direito imprescindível para as mulheres que vivem em situação de pobreza menstrual. Na segunda-feira (5), o Diario de Pernambuco explicou a urgência de tratar esse problema que impacta a vida de milhões de meninas e mulheres no Brasil, impedindo o acesso à educação, além de causar transtornos à saúde da mulher. Nesta quinta-feira (8), a Prefeitura do Recife anunciou um projeto de combate à pobreza menstrual nas escolas do município. De acordo com a gestão da cidade, o programa Ciclo de Cuidado distribuirá absorventes para 17 mil estudantes. O investimento anual do projeto será de R$ 1,5 milhão.
Ainda segundo a prefeitura, o programa tem como objetivo combater a precariedade menstrual e reduzir ausências em dias letivos das alunas durante o ciclo menstrual. Além da distribuição dos absorventes nas escolas durante o ano, o programa conta com a formação de educação menstrual para os profissionais da educação, abordando questões sociais, biológicas, emocionais e ambientais. O projeto também oferecerá protocolos de atendimento e acolhimento às estudantes através das Secretarias de Saúde e da Mulher, debates sobre saúde menstrual e produção de conteúdos informativos para estudantes, profissionais, pais e responsáveis.
Em coletiva, na manhã de hoje, o secretário de educação do Recife, Fred Amâncio, informou que o projeto tem como objetivo dar dignidade para as alunas.
“Vários estudos realizados, inclusive pela UNICEF, mostram que muitas meninas faltam [às aulas] cerca de 45 dias em todo o ano porque não têm acesso ao absorvente e porque não têm orientações e acolhimento. Esse programa que está nascendo hoje é muito mais do que um projeto de aquisição e distribuição de absorventes, mas é também para preparar o ambiente escolar, os professores, cuidar da saúde das meninas e acima de tudo dar dignidade para as mulheres”.
Além das dificuldades ao acesso de absorventes, também se faz necessário o manejo da higiene nas instituições educacionais. Ainda segundo o relatório da UNFPA e UNICEF, além da privação de chuveiros em suas casas, 4 milhões de meninas sofrem com pelo menos uma privação de higiene nas escolas. Isso inclui falta de acesso a absorventes e instalações básicas nas instituições de ensino, como banheiros e sabonetes. Desse total de estudantes, quase 200 mil alunas estão totalmente privadas de condições mínimas para cuidar da sua menstruação na escola.
“A melhoria dos banheiros das nossas escolas é uma das nossas prioridades, na questão de higiene como um todo, mas o programa também traz um olhar com relação à privacidade e não só com relação à estrutura”, afirmou o secretário.
O prefeito João Campos esteve na reunião e aprovou o Projeto de Lei Ordinária 311/2019
do vereador Hélio Guabiraba (PSB). Na ocasião, João reforçou a importância do programa.
“Ir à escola é um direito humano, e é preciso garantir que ele seja levado muito a sério. Deixar de ir para a aula por não ter condição de comprar absorventes é uma triste realidade que já afetou 1 em cada 4 pessoas no Brasil. Não podemos deixar isso acontecer. Vamos distribuir absorventes para 17 mil estudantes, mas, além disso, fornecer Educação Menstrual para profissionais que atuam em escolas e tratar a questão social, biológica, emocional e ambiental. Isso envolve saúde, autoestima, segurança e o direito sobre o próprio corpo”.
A deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP) também esteve na coletiva.Tabata apresentou, dia 2 de março do ano passado, o Projeto de Lei 428/20, com o objetivo de ofertar absorventes higiênicos em espaços públicos.
“Infelizmente a menstruação ainda é um tabu. Muitas pessoas não querem ter a coragem de falar sobre o assunto. É um tabu que impacta muito negativamente as meninas quando perdem um mês e meio de aula por ano porque estão menstruadas, quando precisam recorrer ao miolo de pão e até coisa pior. É uma questão de saúde, de educação e de dignidade. Quando esse projeto foi apresentado lá na Câmara, houve uma repercussão muito negativa, com muito preconceito, com muita ofensa. As mudanças estão acontecendo nos estados e municípios e agora uma capital está abraçando a causa”, relatou a deputada.